Surfari Reconhecendo o Surf

 

Uma jornada de 15 mil quilômetros por todo litoral para buscar entender quem é o surfista brasileiro.

Um universo de praias, pessoas e iniciativas incríveis. Por trás de cada passo, centenas de histórias.

A nossa cultura surf é linda, rica e diversificada. E se a pesquisa ao final do projeto vai nos ajudar a entender em números e dados como funciona o mercado e comportamento ao redor do surf, estes episódios são um retrato mais humano da nossa jornada. Uma janela para vermos a cena acontecendo em diversos lugares do Brasil.

Com uma pitada de bastidores e percalços que são inevitáveis numa viagem de 3 meses, o pessoal da Surfari se jogou na estrada e conta pra você o que rolou pelo caminho.

 

 

Nosso norte é o sul. Ou o centro. No manifesto América Invertida, Joaquin Torres Garcia, propôs essa visão, de que aos olhos de quem mora na periferia, o centro se encontra lá mesmo.

E bem, ainda estávamos explorando nossa terra conhecida, o centro de nossas experiências como surfistas, os locais que nos formaram.

Mas ao fazer um trabalho de pesquisa, nossa missão é assumir olhos e ouvidos de criança e, apenas, observar e absorver como o surf impacta a cultura e economia da região.

E Santa Catarina respira surf, sendo talvez um dos estados onde essa afirmação é mais verdadeira. Escrevendo esse texto após conhecer todo o litoral brasileiro, é difícil encontrar um pedaço mais desenvolvido e diretamente influenciado pelo esporte e estilo de vida atrelado ao ato de deslizar em ondas.

E pra entender esse fenômeno chegamos em Garopaba. Só um adendo antes de seguir, note que passamos pelo Morro dos Conventos, Farol de Santa Marta, Itapirubá e outras praias, e isso ocorreu pois, assim como tudo na vida, estávamos gerindo tempo e recursos para completar o projeto. Alô patrocinadores, fica aqui a nossa disposição de repetir a pesquisa contemplando todas as praias que ficaram de fora. Ok. Segue.

Garopaba foi ‘descoberta’ por surfistas gaúchos. Cariocas e paulistas podem ficar de horror com essa afirmação, mas a distância é simplesmente mais favorável aos exploradores gaúchos.

Um dos primeiros a fincar bandeira na terra prometida foi Morongo, médico e fundador da Mormaii. Esse cara é o ultimate-hippie que viu na cidade um oásis de qualidade de vida.

Para aproveitar as ondas perfeitas que quebravam durante o inverno, e não morrer de hipotermia, costurou uma roupa de borracha.

Os amigos gostaram da ideia e encomendaram as suas, os amigos dos amigos também e hoje, Morongo é o dono de uma marca que fatura 300 milhões de reais por ano.

A expansão da Mormaii se confunde com o desenvolvimento de Garopaba, e esse crescimento orgânico foi atraindo mais e mais pessoas em busca da tão sonhada qualidade de vida.

O bloqueio de construções altas e empreendimentos de beira de praia mantiveram o astral e tranquilidade que trouxeram surfistas como Ranieri, nascido em Uruguaiana (RS) a 750km do oceano mais próximo.

Contratado pela Mormaii para desenvolvimento da linha de wetsuits, mantém o surf no topo de sua lista de prioridades e não planeja mover-se para longe do mar tão cedo.

Outro perfil muito atraído pela região são as surfistas mulheres, como as representantes que conversamos do grupo de apoio ao surf Filhas do Mar, Mara, Bruna e Carol.

Com variadas oportunidades de trabalho, um custo de vida aceitável e diversos tipos de ondas, Garopaba tem atraído muitas mulheres desde a mais recente proliferação de surfistas do gênero.

Passando por questões mais econômicas, foi abordada a pesca artesanal da tainha e o conflito (que já foi mais tenso, é verdade) com o surf a partir da história do filho de pescador Berg.

Local da Ferrugem, Berg entende o lado do pescador, que fecha a maioria das praias por dois meses para o cerco do peixe, e do surfista, que fissurado como é gostaria de ter as ondas disponíveis.

A questão é delicada, mas a força política dos pescadores vem diminuindo ao longo do tempo com a falta de renovação, que com o desenvolvimento de diversas áreas, principalmente o turismo, tem em outras atividades uma forma mais atrativa de sustento.

Colocado na balança, o surf gera mais renda que a pesca, mas por uma questão cultural se faz necessário o entendimento da atividade pesqueira.

Mais tarde, encontramos Marco Giorgi, uruguaio que veio com os pais morar por aqui e forjou uma carreira como surfista profissional patrocinado pela Mormaii.

Mesmo tendo viajado por meio mundo surfando, Marco reconhece que a região oferece um vasto campo de treino e muita constância de ondulações, embora no lado do mercado seja altamente dependente da marca que colocou Garopaba no mapa.

Por fim, relembramos o eterno Ricardo dos Santos, local e defensor da Guarda do Embaú, no caminho a Florianópolis.

A Guarda, desenvolvida também a partir de uma onda mítica teve sua história entristecida por um crime brutal que fez vítima seu filho mais pródigo.

Um caso que pede atenção para o crescimento desenfreado de algumas frágeis cidades litorâneas brasileiras, frequentemente invadidas por mais forasteiros que sua estrutura é capaz de suportar.

No próximo episódio, chegamos a Florianópolis, a ilha da Magia.

Embarque conosco na maior pesquisa sobre a cultura surf do Brasil. Mais informações: www.reconhecendosurf.com

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