O surf arte de Carlos Carpinelli

Depois da matéria publicada pela Revista Surfar, que também ganhou destaque aqui no site, falando sobre sua arte, conversamos com Carlos Carpinelli, diretor de criação da Mormaii, para saber mais sobre sua história de vida no surf, principal fonte de inspiração para suas obras.

Como foi seu início no surf?

Foi aos 12 anos, com uma prancha que minha mãe, que sempre teve um pensamento alternativo e holístico, me comprou. Era de fibra de vidro, feita em moldes, sem longarina, uma 5’11″. A praia ficava bem perto de casa, eu ia andando pro surf em Praia Grande (SP), água quente e ondas com muito maral (risos).

Quais as lembranças mais vivas na sua memória daquela época?

O surf era mau visto pela sociedade em geral, coisa de vagabundo. Os caras que eram do meu bairro e surfavam há mais tempo eram a referência, não haviam filmes de surf, só as revistas. Depois começou a passar na TV o Surf Special, na Bandeirantes, e o Programa Realce, com notícias “da gringa” (Hawaii, Europa, Austrália e África do Sul). O cara na época era o Tom Currem, não tinha pra ninguém, ele estava muito a frente dos outros, em estilo e linha na onda, foi inspiração pura!

E na arte, lembra como foram seus primeiros passos?

Eu comecei a desenhar para marcas de surf aos 13 anos de idade, pintava uns painéis no quarto dos meus amigos, fui aprendendo tentando, até que um dia fui trabalhar com um cenógrafo e artista plástico incrível, chamado Marcos Sacks, onde aprendi realmente a entender a tinta e as pinceladas. Isso mudou minha forma de expressar minha arte, usando uma técnica que vinha do escuro para o claro, possibilitando chegar mais perto do que eu queria representar, ou seja, toda a minha fissura pela arte, pelo oceano e o surf.

Qual a relação entre surf e arte?

Inspiração! O surf é a maior fonte de inspiração. Quando faço uma onda quebrando fico imaginando como seria surfar nela, como seria a linha possível – por dentro, ou rasgando a face – as cores que aquele visual teria, os reflexos, a luz do sol atravessando a água, o vento terral e como ele movimenta as marolas de superfície que refletem o céu e transparecem o fundo. Dependendo do ângulo em relação aos olhos, tudo é desafio e inspiração, elementos que tornam o mar tão complexo e lindo que toca nossa alma e coração, que fazem um desenho se tornar uma arte.

Acredita que depois de um bom dia de surf a inspiração flui mais?

Depois de um dia de surf é perfeito para imaginar, carregar a energia, mas o corpo fica detonado. Prefiro pintar quando estou fissurado pra surfar mas não tem onda ou não posso cair na água, aí mato a vontade de surfar através da arte.

Entre tantas trips, quais picos foram mais marcantes?

Mentawaii e Papua Nova Guiné. Nas Mentawaii peguei as ondas mais perfeitas e sem crowld e na Papua Nova Guine surfei com os nativos em lugares onde o povo ainda é muito puro em relação ao Ocidente, com crianças surfando em pedaços de pranchas e curtindo as visitas como se fosse um grande evento, um dia especial, me trazendo o sentimento da essência do surf, com alegria e prazer de dividir o mar e as ondas. Realmente especial.

Se pudesse surfar uma onda pelo resto da vida, qual seria?

Desert Point eu acho. É meu sonho de onda, longa tubular e com uma forma de quebrar que proporciona uma linha muito fluída e tubos muito longos. É o bicho!

Qual a sensação de ver seus filhos surfando e seguindo seu caminho?

É um sonho que se realiza. Tento não pressioná-los para surfar e deixo que a vontade venha deles, pois o mar é muito perigoso e a iniciativa tem que vir de cada um. Só me resta aguardar e dar as oportunidades, quem sabe um dia vamos dividir um lineup em família, seria demais.

Eles gostam de pintar também?

Um pouco, eles ainda não tem paciência, quem sabe quando estiverem maiores, estarei sempre disponível para incentivar no momento que eles quiserem.

Você costuma levar seu material de pintura nas trips?

Eu tento, algumas vezes consigo, outras não. Geralmente as trips são muito corridas, pois estou sempre a trabalho e tento surfar nas horas que dá, então sobra pouco tempo pra pintar. Mas fotografar tem me ajudado muito a entender a luz dos lugares e também ter os registros para depois poder pintar em casa com bastante tempo e inspiração da viagem.

Gostaria de deixar uma mensagem pra galera que pega onda e quer se aventurar no lado artístico?

Acreditem, façam! Independente de qualquer opinião dos outros, ou do mercado, o que conta mesmo é o sentimento de realização de algo que a gente sente que pode fazer a diferença na nossa vida e na vida das outras pessoas. Algo que depois de muito tempo ainda vai estar lá, na memória ou na web, ou na casa de alguém, servindo de inspiração para surfistas ou quem ama o mar, trazendo mudança na atitude das pessoas. Registrando uma onda que pode deixar de existir, como por exemplo o Pier de Ipanema, que hoje só existe na memória de quem viveu ou em imagens e artes da época. Ou mesmo criando lugares, ondas, ou manobras que existem ou virão a existir. Façam, vivam a arte e suas experiências, boas ou ruins, nunca será em vão, sempre será uma inspiração pra alguém em algum momento. E, por fim, pode contribuir, mesmo que sutilmente, para um mundo melhor e com mais surf. Aloha!

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